O que fez um gestor contratar um Biólogo para a área Financeira?

12 de agosto de 2021

Pois é isso mesmo! Você leu o título deste artigo corretamente.

 

Essa história foi contada na entrevista #6 do Headhunter Entrevista, o gestor que fez essa contratação nada óbvia foi o meu convidado Alvaro Spinola, atual Managing Director & CFO do First Manhattan Co, em Nova York.

 

Ele é brasileiro, foi CFO do Itaú – onde trabalhou por muitos anos – mas essa contratação que eu considero “fora da caixa” foi feita enquanto trabalhava na CNAA, um Private Equity sediado em Ribeirão Preto que veio a ser vendido para a BP (British Petroleum).

 

O Álvaro nos trouxe insights grandiosos durante sua entrevista, mas eu fiz questão de separar esse assunto específico, pois como Headhunter vejo todos os dias: demandas de contratações óbvias.

 

Esse caso saltou às minhas vistas e senti que precisamos falar sobre isso.

 

É normal que meus clientes entrem em contato comigo querendo contratar um Executivo com umas experiências similares à sua realidade. Se são do segmento farmacêutico e estão em busca de um CFO, por exemplo, querem que eu apresente CFOs com experiência no setor farmacêutico.

 

➣ Estão errados? De maneira alguma!!

 

A questão aqui é que a melhor contratação nem sempre é a óbvia, precisamos estar abertos para isso. Ao tomar uma decisão como essa, não existe a garantia que o executivo terá um bom desempenho na nova organização.

 

Algumas empresas são abertas a avaliar novas possibilidades, outras abrem o leque de opções de buscas depois que as tradicionais se esgotam; outras nem quando esgotam. Preferem não contratar alguém de fora, ou promover alguém internamente (mesmo que sem perfil) com a promessa de desenvolver o novo profissional – e acaba provocando novos problemas para si mesmos.

 

Estamos vivenciando um mercado de trabalho cada vez mais flexível, em que as habilidades comportamentais (soft skills) recebem peso cada vez maior, enquanto as habilidades técnicas (hard skills) podem ser flexibilizadas.

 

Afinal, promover o desenvolvimento de uma habilidade técnica é menos complexo, esse gap pode ser considerado uma falha temporária, passível de aprimoramento.

 

O caso da contratação de um biólogo para uma vaga em Planejamento Financeiro grita aos nossos ouvidos com os ventos da mudança. Tudo bem que a empresa era do segmento Agro, e esse profissional conhecia muito sobre cana de açúcar, mas isso não o ajudaria a planejar nada.

 

Álvaro explica:

-Foi uma questão de sentimento, de atitude. Via que era uma pessoa inteligente, mas tinha uma atitude de alguém que queria aprender e eu consegui enxergar essa energia nele. Sabia que ia conseguir trabalhar bem com a minha equipe e esse encaixe era muito importante para mim.

 

E o outro lado da moeda também nos chama atenção: O que levou um biólogo a aceitar uma vaga na área financeira? Eu não tive tempo de entrar em contato com ele para entender, mas gostaria de fazer isso em breve.

 

De qualquer forma, fica a reflexão!

 

E quando eu perguntei para o Álvaro que ele busca nos profissionais que ele o contrata continuou o raciocínio:

 

Eu prefiro trabalhar com alguém que eu acho que vai encaixar bem na minha equipe, que vai colaborar com ideias e que vai ter atitude positiva do que alguém brilhante. Óbvio que se eu conseguir alguém brilhante com essas atitudes é o melhor dos mundos, mas entre alguém brilhante que eu sinta que é arrogante e que não vai ter um perfil que vai contribuir com minha equipe, eu prefiro ir para o outro caminho. Esse tipo de colaborador que eu busco.

 

Hoje o Alvaro assumiu um desafio de gestão um pouco diferente do que estamos acostumados a ver por aí. Como Managing Director e CFO do First Manhattan Co, ele é o mais novo de sua equipe, por no mínimo uma década.

 

Para vocês terem ideia, ele tem gestores com mais de 80 anos de idade e que ainda mantém uma alta produtividade, além de resultados. Com a aposentadoria da antiga CFO, a contratação do Alvaro teve justamente a intenção de trazer alguém mais jovem, mais engajado no mercado, mais dinâmico, que pudesse trazer ideias novas e contribuir para uma transição de gerações mais coerente e tranquila.

 

Enquanto liderado, ele teve três coaches com perfis diferentes que foram fundamentais para seu crescimento:

 

Na Fannie Mae teve um gestor mais estratégico, que ensinou para ele alguns valores importantes e que deixou claro, depois de dois ou três erros importantes do Alvaro, que se ele tivesse que auditar tudo o que ele fazia, não conseguiria mais trabalhar. Lição aprendida.

 

Na CNAA teve um gestor mais técnico que ensinou mais sobre o setor e sobre coisas mais complexas como Excel e Valuation. Foi um gestor muito parceiro e fundamental na formação de quem ele é hoje, como profissional.

Já no Itaú teve um gestor mais sênior, porém mais visionário:

Montava apresentações de uma maneira que contava histórias de forma mais efetiva do que ele poderia contar.

Isso o ajudou muito, pois hoje, como CFO, Alvaro precisa mostrar dados que nem sempre são simples de apresentar para um grupo de Executivos. “Como eu faço eles capturarem aquilo que eu quero que eles capturem?”, se questiona. E a maneira de apresentar faz toda diferença.

 

“Um estratégico, outro técnico e outro comunicação”, definiu.

 

Agora leia as 10 Key Notes (Anotações-chaves) da minha entrevista com o Alvaro:

➣ E, se preferir (e eu recomendo fortemente que o faça), assista o vídeo completo.

 

Planejamento de Carreira – Não tem. Está muito contente por ter chegado aonde chegou, mas nunca teve um plano claro para isso, nem sabe para onde vai depois dali.

 

Mudanças são bem-vindas – Sua carreira passou por momentos diferentes de mercado, por setores diferentes, mas cada área foi complementando uma nova habilidade, uma nova competência.

 

Experiência anterior inexistente – Quando foi entrevistado para a CNAA deixou claro que não conhecia nada sobre o setor Sucroalcooleiro e foi contratado mesmo assim. Atuar na área de Planejamento Estratégico é um ponto muito positivo, pois coloca o profissional em contato com o negócio e oferece aprendizado sobre o mercado.

 

Teve bons Líderes – Trabalhou com bons Líderes, com perfis de coaches. Gente com paciência para ensinar, que tinham conhecimento e conseguiam trabalhar junto e de maneira complementar. Isso sempre o ajudou na carreira.

 

Comunicação é ponto chave – Dependendo do nível do cargo em que você chegar, sem comunicação você começa a se limitar. Ele nunca foi muito extrovertido nem comunicativo, mas teve que se desenvolver e aperfeiçoar essa competência. Se quiser chegar mais longe e ser reconhecido internamente, a comunicação é fundamental.

 

Desenvolvimento de competências – ‘Ouvir as pessoas que sabem mais do que a gente é fundamental’. As vezes não temos essa disciplina e queremos falar para mostrar que também temos ideias (o que também é importante), mas tentar escutar pessoas que sabem mais do que nós, é um ótimo exercício.

 

Nunca deixar de tentar aprender mais – Prestou CFA enquanto ainda estava na Fannie Mae; fez mestrado em Contabilidade enquanto estava no Itaú; se certificou como CPA chegando de volta nos Estados Unidos. Sempre cursos que aprofundaram seu conhecimento, além do dia a dia no trabalho.

 

Sobre Aprendizado – Aprendizado é eterno, não podemos deixar de ser aluno.

 

Buscou diferenciação técnica – Enquanto estava na Fannie Mae prestou o CFA, uma prova extremamente difícil de passar e com poucos certificados (na época, havia menos do que 100 pessoas certificadas no Brasil!).

 

Liderança – Alvaro explicou que trabalha construindo uma relação de confiança e vai delegando aos poucos, mas cada vez mais quando o resultado do trabalho delegado é positivo.

 

Mostra como fazer – Por ser uma pessoa técnica, Alvaro é daqueles gestores que não só mostra como faz, mas faz para mostrar.

 

Sobre Gestão – Fundamental reconhecer que cada pessoa tem habilidades diferentes, pontos fortes e fracos. Saber coordenar isso, criar Sinergias e um bom ambiente de trabalho é fundamental como Gestor, para assim construir os resultados.

 

 

Você pode assistir as entrevistas que já aconteceram em meu canal do Youtube. Corre, que elas não ficarão no ar por muito tempo!

 

Fernando Paiva – Headhunter

Publicado em 17 de julho de 2017